POEMA

O tempo passa ? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.

 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro.

Natural de Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade nasceu em 1902. Formou-se em Farmácia em Belo Horizonte. Retornou a Itabira, onde foi professor de Geografia e Português. De novo em Belo Horizonte, segue a carreira de jornalista e trabalha como funcionário público. Foi oficial de gabinete do Ministério da Educação, chefiou a secção da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Fez parte do grupo de modernistas de A Revista. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1987.
A obra poética de Carlos Drummond de Andrade acompanha a evolução dos acontecimentos, registrando todas as coisas que o rodeiam e que existem na realidade do dia-a-dia. São poesias que refletem os problemas do mundo, do ser humano brasileiro e universal diante dos regimes totalitários, da Segunda Guerra, da Guerra Fria.
Alguns temas foram recorrentes na obra de Drummond: o cotidiano, a preocupação social e política, as reminiscências, o amor e a metalinguagem.

Em suas primeiras obras mostrou o impasse entre o artista e o mundo. A partir de A Rosa do Povo (1945), escreveu uma poesia engajada politicamente. Foi também cronista, um dos mais importantes poetas contemporâneos brasileiro, traduzido em vários idiomas.

O poeta analisou o homem moderno e seus sentimentos com sensibilidade e muitas vezes com ironia. Percebe as injustiças do mundo (guerras, violência) e a transforma na matéria de sua poesia.
OBRAS: Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934); Sentimentos do Mundo (1940); Confissões de Minas (1944); A Rosa do Povo (1945); O Gerente (1945); Poesia Até Agora (1948); Claro Enigma (1951); A Vida Passada a Limpo (1959); Lição de Coisas (1962); A Paixão Medida (1980); Amar se Aprende Amando (1985); O Observador no Escritório (1985); Tempo Vida Poesia (1986).
 

 

   

 
 
     
 

 

 

       
 

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